Janaína tinha os pés de galinha mais profundos que eu já vira na vida. Sulcos finamente esculpidos como se outrora rios de água salgada lhe tivessem brotado da lagoa de seus olhos e percorrido caminhos tortuosos até as suas bochechas pálidas.
Mas ela sorria, sempre e tanto. O tempo todo. E não era sorriso inocente, complacente ou gentil. Era sorriso de quem precisa escancarar.
Não era claro, para mim, no entanto, se seus lábios se curvavam por ironia ou alegria. Talvez ambos, já que a ironia a divertia enormemente. Impossível não achar graça nos tantos absurdos que a vida traz, embalados em papéis de presente nas madrugadas de insônia.
É que de repente tudo faz um clique:
Rir é uma forma de leveza. E é também uma forma de protesto.
Sorrir é uma tentativa de não se afogar em tanto mar.
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Imagem: unsplash.com
Que lindo! Adoro essas suas poesias em prosa :**